segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Uma semana depois...


Passada uma semana da apresentação do Plano Mateus para o Barreiro tive tempo para reflectir sobre o que foi exposto no Auditório Augusto Cabrita. Estive atento a tudo o que foi dito e hoje confesso que esperava mais. Esperava mais pormenorização por parte dos autores do plano e esperava mais objectividade por parte do Presidente da Câmara Municipal do Barreiro.

À parte da descoberta que todos fizémos e que não vi reflectida na comunicação social, de que o novo plano para o Quimiparque permite ainda mais urbanização que o anterior Masterplan, ao prever uma zona mista de indústria ligeira, serviços e habitação, o conceito que se apresentou pouco varia do plano anterior. Na minha insignificante opinião, o novo plano não resolve eficazmente a previsível divisão do Barreiro em quatro que a nova ponte vai provocar. Perguntei-me se algumas abelhinhas teriam ido zumbir aos ouvidos dos autores do plano notícias das intenções do Governo relativamente à ponte e eles estariam apenas a apresentar um plano que já conta com a não construção da ponte. Parece-me exótico que uma personalidade da estatura do Prof. Augusto Mateus venha dizer que para o plano que está a apresentar é indiferente que se faça, ou não, a ponte. Fiquei aterrorizado com a consideração de que a quantidade de terreno necessária para a construção das oficinas ferroviárias corresponde a noventa por cento dos terrenos que a CP possui no Barreiro, e com a implicação de que a necessidade que o Barreiro tem desses terrenos para produzir o seu desenvolvimento inviabiliza a construção de tal estrutura. Em suma, a leitura que fiz do plano diz-me que os autores não acreditam que a ponte venha para o Barreiro, ou se vier, não acreditam na implantação no Barreiro das famosas oficinas para o TGV.

A visão de criar no Barreiro um espelho do Terreiro do Paço com uma grande praça marítima não me pareceu grande novidade mas pareceu servir para desviar a atenção do essencial, que é a relativa superficialidade do plano e a falta efectiva de concretização de algumas ideias chave que espero estarem reflectidas na documentação que penso ter sido entregue ao Presidente da Câmara. Estou com isto a pensar na forma de conciliar, em tão pouco espaço a quantidade de estruturas que se apregoaram na apresentação, (a praça monumental, a estação multimodal, a ponte, a grande central logística e uma volumosa nova área urbana), com as redes viárias de que depende a sua instalação e eficaz funcionamento, mas podemos sempre colocar as coisas por camadas. É que não me consigo esquecer de como é a entrada no Barreiro pela via rápida às sete da tarde e cheira-me que será muito difícil conciliar o triplo do trânsito actual com as exigências de mobilidade que uma grande central logística exige. A ideia, no geral, pareceu-me boa, aliás, quem sou eu para duvidar da clarividência do Prof. Augusto Mateus? O que me pareceu é que um plano que se baseia em dados vagos e imprecisos dificilmente fará uma boa ferramenta de trabalho. Mas sempre é melhor que nada, noutros tempos dividiu-se a África a régua e esquadro e quase que resultava.

Quanto ao discurso do Sr. Presidente da Câmara, fiquei sem perceber se tem uma ideia do que quer para o Barreiro ou não e até estranhei ouvi-lo a repetir de forma quase mimética o discurso que tanto criticou ao seu antecessor. Fiquei sem saber se tinha reparado que uma das necessidades identificadas no plano era a ponte rodoviária para o Seixal, ligando-nos a uma zona que, aliás, se encontra em franca explosão demográfica e que outra delas era a necessidade da recuperação e consolidação do núcleo histórico do Barreiro. Fiquei sem saber o que é que o Presidente Carlos Humberto de Carvalho pensa sobre a articulação da nova centralidade que se está a desenvolver em Coina com o desenvolvimento pretendido, em termos viários, para a zona do Quimiparque. É que não consigo deixar de pensar que o Barreiro não pode ser visto de acordo com a quinta em que se está, tem de ser visto no seu todo e, para isso, o Plano que foi apresentado não me deu respostas. Não podemos ver o nosso território por fatias, por maiores que estas sejam. Resta-me a esperança de que o plano ainda venha a ser colocado em discussão pública e que os cidadãos se possam pronunciar sobre o que, de facto gostariam que o Barreiro fosse no futuro. O debate sobre o destino da nossa terra inclui, inevitavelmente, a discussão sobre o Quimiparque, é essencial que se abra mais este dossier à participação dos cidadãos.

1 comentário:

Dino M. V. Soares disse...

Pedro,

Também tive a oportunidade de assistir à apresentação do Plano de Desenvolvimento do Território da Quimiparque (e afins), no AMAC. Concordo com a generalidade da tua crítica, mas parece-me que os técnicos responsáveis por este ante-projecto, deverão ter produzido apenas aquilo que lhes foi encomendado pelo executivo camarário. Assim, torna mais difícil e distante a concretização, o que é largamente conveniente para a coligação PCP-PEV: se se mantiverem na Câmara vão alegar falta de apoio governamental para fazer avançar a obra; se a perderem, vão, no caso da equipa seguinte pegar no projecto, chamar a si o ónus desta grande visão de futuro.

Abraço.