terça-feira, 10 de julho de 2007

Considerações sobre o futuro do Partido Socialista no Barreiro

Mais do que uma vez ouvi dizer, nas semanas recentes, que ninguém acredita numa vitória do PS nas eleições para a Câmara Municipal do Barreiro em 2009. Ouvi dizer que, a continuar assim, a CDU vai atingir a maioria absoluta. Não sei que teias da política interna do Partido Socialista têm provocado em alguns militantes essa convicção miserabilista, no entanto, reconheço que interessa a algumas pessoas, como sempre e em todos os grupos, que surja um candidato derrotado das próximas eleições, como se as últimas não tivessem servido de exemplo.

Cada vez que oiço esta teoria digo que não, que ainda há tempo, que vamos ganhar em 2009. Depois dou por mim a pensar porquê e para quê. Não pode ser para alimentar projectos de poder pessoal de quem não se descortinam objectivos, de gente que não quer nada e depois fica com tudo. Temos de ganhar porque temos um projecto melhor que o dos nossos adversários e equipa com capacidade para o pôr em prática. É que a política não se esgota nos actos eleitorais, nem os políticos devem viver exclusivamente para as eleições. A parte mais importante da política começa precisamente no instante que se segue ao acto eleitoral e acaba umas semanas antes das eleições seguintes.

O que fica destes noventa e muito por cento das nossas vidas políticas em que estamos sem eleições são as nossas atitudes e a forma como elas estão relacionadas com o objectivo que devemos perseguir, que é o de melhorar a qualidade de vida dos nossos concidadãos, promovendo um desenvolvimento sustentável dos factores económicos, sociais e culturais, de acordo com os ideais de cada partido e eventualmente, de acordo com o conceito que temos do que deve ser a vida numa sociedade moderna e de progresso.

O Partido Socialista vai ganhar as eleições em 2009 no Barreiro se estiver unido em torno desse objectivo e se for capaz de criar três condições elementares para atingir esse objectivo: Uma liderança eficaz capaz de produzir unicidade de acção e uma coordenação eficaz dos recursos humanos disponíveis; uma reflexão séria e conclusiva sobre o que correu bem e o que correu mal no mandato anterior; e uma atitude de oposição séria, permanente e coerente, intolerante para com os abusos do poder e compreensiva para com as decisões que previsivelmente beneficiam todos os cidadãos da nossa terra.

O Partido Socialista não deve nunca esquecer-se que teve e tem responsabilidades governativas no País e no Barreiro, não pode, por isso, ser a imagem do anti poder, nem da oposição irresponsável e desmemoriada. Esse é o papel que cabe ao Bloco de Esquerda e aos partidos que nunca tiveram responsabilidades autárquicas nem desenvolveram seriamente um trabalho de reflexão e de implementação de um projecto de cidade.

O Partido Socialista tem um projecto para o Barreiro e este projecto está em andamento, e vai ser a CDU a levá-lo à prática, quer goste ou não goste. O Fórum Barreiro, a solução da situação do Mercado Municipal, o Masterplan, as vias estruturantes, o Polis, a reconstrução do Barreiro Velho, tudo isto são projectos que nasceram da visão de cidade moderna e central que o Partido Socialista teve no Barreiro e que deixarão a sua marca na história, quer a CDU queira, quer não queira, está a acabar os nossos projectos, assim como nós tivemos de acabar as obras que nos deixaram em mãos há seis anos atrás.

Não devemos ter a ilusão de que o tempo da vida de uma cidade se pode separar em episódios, e que a sequência das coisas não tem qualquer relação connosco quando a responsabilidade muda de mãos. Nem a CDU deve pensar que os cidadãos e as cidadãs Barreirenses são estúpidos e que não vão dar o devido valor a quem lançou esta cidade no rumo inexorável do progresso, que os obrigou a abrir os olhos para a ideia da “participação e cidadania”, tão adversa ao centralismo democrático.

O Partido Socialista foi castigado nas urnas em 2005 pelos erros que cometeu e não pelo trabalho de progresso que realizou. O povo do Barreiro está à espera que o PS faça a sua auto análise e lhe diga que vai ser capaz de evitar a repetição dos erros e dos excessos do passado para voltar a dar-lhe a vitória eleitoral. É por isto que não acredito quando me dizem que o PS vai perder as próximas eleições. Porque sei que os Barreirenses percebem quem é que abriu os horizontes económicos, sociais e culturais desta cidade e percebem que o Partido Socialista tem um projecto de cidade que está em andamento e em construção. O que falta é o próprio PS perceber isto e não ser dúbio no que toca ao apoio às medidas que lançou nem cair na tentação de fazer oposição a qualquer custo.

Reconheço que é difícil não cair em contradição quando, quem está à frente do Partido Socialista na nossa cidade é, precisamente, quem foi o maior e mais acutilante crítico do trabalho que estava a ser feito pela equipa do Eng.º. Emídio Xavier e não se inibiu de espalhar essas críticas por toda a comunicação social, mas tenho esperança, e a esperança é a última coisa a morrer. Tenho esperança de que o debate sério e honesto sobre as virtudes e os malefícios da gestão municipal da equipa do Eng.º Xavier resolva estas contradições e coloque o Partido Socialista no rumo correcto. É o que eu espero e é o que o povo do Barreiro espera, e é por isso que insisto em não acreditar quando me dizem que nas próximas eleições a CDU vai conquistar a maioria absoluta.

Acredito que a reflexão, por parte do Partido Socialista sobre este tema, é urgente, e é por isso que saio hoje a público com estas considerações. É urgente que o Partido Socialista do Barreiro assuma a obra que fez e a herança que deixou e aja em conformidade com isso. É também urgente que o mesmo Partido Socialista identifique os erros que cometeu e os repudie, para que os possa criticar agora, que a nova gestão os começa a repetir.

Acredito que o Partido Socialista do Barreiro é capaz de se constituir como uma oposição sólida, corajosa e coerente, e é por isso que luto. Acredito que é este o caminho que os militantes do PS do Barreiro e os Barreirenses querem que o Partido Socialista siga. Penso que os Barreirenses querem uma terra de cidadania verdadeiramente participada, virada para o progresso económico e humano e é por isso que não acredito em pessoas que me dizem que não querem nada.

O tempo de tirar o luto chegou ao Partido Socialista do Barreiro. Está na hora de superar os efeitos da derrota passada e começar um novo tempo, de devolução aos Barreirenses da esperança perdida. Para isso, basta começar por um debate que se faz tardar e pela assunção das suas conclusões. Os Barreirenses estão a olhar para o Partido Socialista com desapontamento, está na hora de mostrar que somos capazes de liderar o Barreiro no Séc. XXI. Para isso bastará começar por um debate interno adulto, sério e conclusivo. É por acreditar que este debate é inevitável que sei que o Partido Socialista vai voltar a conquistar a Câmara Municipal do Barreiro em 2009.

Artigo publicado no Jornal Digital "Rostos onLine"

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