quarta-feira, 18 de julho de 2007

A Poesia também faz o Homem

O meu camarada e amigo Isaurindo Abegão enviou-me um poema de sua autoria que não resisto a publicar. Uma pérola que é uma semente para o pensamento da nossa forma de estar na vida.


Na Cidade da Matança

De ferro e aço, frio e mudo,

Forja um coração, ó homem – e vem!

Vamos à cidade da matança:

E olha com teus próprios olhos,

E toca com tuas próprias mãos

Nas paredes, nas portas, nos postes, nos muros

Em todas as madeiras, nas pedras das ruas,

As manchas de sangue, negras e secas

Com as entranhas de teus irmãos

E erra entre ruínas

Entre paredes destruídas e portas retorcidas,

Entre meias chaminés e fornos destruídos

Através de nuas pedras negras, de tijolos calcinados,

Onde, ontem, o fogo e a acha executaram,

Na boda de sangue, um bailado de fúria;

E arrasta-se através de sótãos, de tetos furados,

E enfia o teu olhar em todos os escuros buracos:

São negras as feridas abertas e mudas,

Que não mais esperam remédio no mundo

Isaurindo Abegão

12.01.2007

Sem comentários: