terça-feira, 13 de março de 2007

Carta aberta à Vereadora Regina Janeiro

Exma. Sra. Vereadora Regina Janeiro,

Perguntará Vossa Excelência que motivos tem este cidadão para se dirigir assim a si, através de uma carta aberta, e com alguma razão, pois é uma forma de intervenção pública muito mais directa que um simples artigo, identificando objectivamente o destinatário do escrito.

Pesei durante algum tempo as diversas formas de abordar os assuntos que hoje levo à sua atenção e decidi que não seria elegante da minha parte começar a criticar a sua acção como autarca antes de, previamente, a alertar para alguns assuntos que me preocupam e que me levarão a discordar frontalmente das suas decisões políticas se os casos em questão persistirem.

Conforme sabe, tenho por si alguma estima e admiração, o que me leva a dar-lhe o benefício da dúvida, presumindo que não terá ainda encontrado o tempo necessário para se debruçar sobre todos os aspectos da governação da imensa área que tem sob sua alçada na Câmara Municipal do Barreiro, este motivo, aliado ao facto de a minhas preocupações fundamentais serem o Barreiro e os Barreirenses, obrigam-me a moderar-me e a avisá-la de algumas coisas que estarão a correr menos bem, em vez de me lançar numa atitude de crítica destrutiva, apesar das nossas diferenças, acredito que ambos queremos o melhor para o Barreiro.

Em primeiro lugar, permita-me expressar a minha apreensão relativamente ao facto de lhe ter sido nomeado um secretário tão influente no seu partido como é o Engº. Abreu, que me deixa com dúvidas sobre a verdadeira extensão da sua capacidade de decidir sobre as áreas que lhe foram atribuídas pelo Sr. Presidente da Câmara. A inteligência e perspicácia que lhe pude adivinhar nas breves conversas que temos tido afasta de mim a ideia de que poderíamos estar perante o transporte para a edilidade do conceito do novel concurso “a Bela e o Mestre”, no entanto, os rumores que me têm chegado preocupam-me, pois têm-me levado a crer que a população barreirense teria eleito uma autarca que afinal de contas deve obediência não aos eleitores mas a um qualquer superior hierárquico dentro do seu partido, fazendo de testa de ferro para a governação por parte de outrem, que não terá sido eleito.

Em segundo lugar preocupam-me coisas triviais como os atrasos nos pagamentos aos professores que leccionam as actividades de enriquecimento cultural no 1º Ciclo das nossas escolas, e a preocupação é ainda mais séria porque me dizem que o Ministério da Educação transferiu a tempo e horas a verba que teria permitido o pagamento atempado aos professores de música, actividades desportivas, teatro e artes plásticas das nossas escolas primárias. Mas, Sra. Vereadora, neste capítulo, outro aspecto me preocupa ainda mais, é que os professores parece que não são todos iguais e parece que há uns que estão contratados directamente pela Câmara, dizem que são os de Inglês, e há outros que são subcontratados através de associações sócio-profissionais ou culturais. Neste aspecto parece ainda que há uma actividade no pré-escolar que é a da patinagem, que me dizem, não sei se é verdade, que é custeada pelos pais das crianças que a frequentam e cujos professores também não viram o seu ganha-pão a tempo e horas.

Não me desviando do assunto, aproveito para lhe pedir que faça chegar ao Sr. Presidente da Câmara, com o qual presumo que reúna frequentemente, a minha estranheza relativa ao facto de, pela primeira vez em trinta anos, os funcionários da Câmara Municipal do Barreiro não terem todos visto o seu ordenado pago a tempo e horas.

Sei que esta carta já vai longa, pelo que vou tentar abreviar ainda mais a minha exposição. Dizem-me que a Câmara Municipal terá adquirido recentemente o imóvel onde tem funcionado o “Praiense”, o antigo Café Barreiro, e que pretende remover este histórico clube da nossa cidade para um espaço menos digno da sua história. Não conseguindo antever qual o destino que pretendem dar a esse espaço e prevendo tentações de trocar uma colectividade viva por mais um museu de coisas mortas que ainda por cima pode vir, à semelhança de outros espaços da nossa cidade, a não ter um horário que seja compatível com a disponibilidade dos utentes. Também me incomoda pensar que se pode dali tirar o “Praiense” para depois se dar, no mesmo espaço, uma concessão para que alguém possa explorar o bar do não-sei-o-quê que lá vai ficar, à laia de pirataria da única fonte de recursos daquela associação. Como presumo que partilha as minhas preocupações neste capítulo, dormirei descansado por pensar que o “Praiense” não vai mudar de sede.

Tenho muito mais preocupações para partilhar consigo, particularmente no que diz respeito ao conceito que está a ser aplicado na programação cultural na nossa cidade, que parece incerta, desfocada e a conta-gotas, mas esse assunto, deixarei para um outro dia, pois é um tema que já não caberia aqui. Não deixarei ainda de estar atento à regulamentação dos apoios ao movimento associativo que penso já estar em marcha e que acredito ser o instrumento essencial para o estabelecimento de uma estratégia integrada para o movimento associativo no Barreiro, observarei até que ponto Vossa Excelência saberá tomar partido dele em favor de todos os barreirenses. Peço-lhe que não sofra as tentações do passado de dar a uns para tirar aos outros.

Penso que para uma primeira carta, já é suficiente, espero não ter abusado da sua paciência.

Despeço-me com os protestos de elevada estima e consideração,

Pedro Estadão

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